A Gestalt Terapia e a visão de doença
Em Gestalt o homem é tido como uma singularidade, ou seja, como um ser único. O comportamento humano é compreendido como um estilo de ser-no-mundo, portanto não deve ser visto como um fenômeno isolado, sem levar em consideração o mundo exterior.
Para Perls, o desenvolvedor e principal proponente da teoria da Gestalt Terapia, as neuroses surgem da incapacidade do individuo para encontrar e manter o equilíbrio adequado entre ele e o mundo, e todas têm em comum o sentimento de que os limites do meio se estendem demais sobre si mesmo. A neurose/psicopatologia se desenvolve como uma estratégia para manter seu equilíbrio em situações nas quais se vê impotente e dominado pelo “outro”, acreditando que as probabilidades estão todas contra ele.
Goldstein afirma que é uma tendência natural do ser humano, atualizar-se no mundo e por meio dele. E chama esta tendência de constituição psicossomática. Ele afirma a natureza biopsicológica. Ele privilegia a relação eu-mundo mais do que uma relação eu-eu. Os instintos são instrumentos internos para se organizar no mundo e por intermédio dele.
A psicopatologia fenomenológica existencial concebe a doença a partir do próprio homem, ou seja, como um modo de existência, compreendendo-a como uma construção que o sujeito elabora para dar forma e significação às suas experiências.
Para Boss (1997), as doenças mentais sempre provocam alguma restrição das possibilidades de que o homem consiga realizar seus modos de existência. Cardinalli (2004) acrescenta que “o que está prejudicado é a habilidade da pessoa doente de se engajar num levar adiante essas potencialidades particulares como comportamento livre diante daquilo que encontra em seu mundo ” (p. 199). Heidegger (1927/1976) destaca que, na doença, o ser sadio não está ausente, mas perturbado. Tanto na saúde quanto na doença, as características existenciais da pessoa estão presentes como possibilidades; no entanto, ao estar doente, tais características pessoais estão perturbadas. Nesta perspectiva, a patologia é compreendida como interrupção, cristalização ou perda da liberdade existencial e, portanto, como uma limitação da vida do homem em sua totalidade.
Segundo, Aguiar(2005) em termos de processos terapêuticos o ponto de vista do ser humano singular implica que cada indivíduo, demanda uma forma específica de aproximação a partir da configuração total de suas funções de contato, mecanismos de evitação, fronteiras e padrões relacionais.
Na perspectiva gestáltica, a manifestação sintomática, por pior que se apresente é sempre uma tentativa de equilíbrio, e em última instância, um movimento de saúde.
O risco causa ansiedade, mas não arriscar é perder o nosso próprio eu. E o mais, alto sentido é principalmente estar consciente do próprio eu. (Kierkegaard apud Erthal pg. 179).
O transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável
Neste artigo focarei no Transtorno de Personalidade Limítrofe, também chamado de Transtorno de personalidade emocionalmente instável, Transtorno de intensidade emocional ou Transtorno de personalidade borderline (TPB). Boderline significa fronteira ou limite.
O ser-no-mundo dos borderlines denota um padrão comportamental de instabilidade nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos.
A pessoa geralmente apresenta sentimentos de raiva e ira como afeto único ou essencial, associado a uma baixa capacidade de controlar seus impulsos explosivos, o que o leva a manifestar comportamento violento, principalmente quando criticado.
As características de destrutividade, impulsividade e alterações bruscas de humor variam em graus diversos, podendo chegar a quase não ser perceptíveis para os outros. Mas todos, sem exceção, descrevem uma grande dificuldade de sentirem-se genuinamente presentes e vinculados em seus contatos íntimos, e a ausência quase completa de intimidade com alguém é muito freqüente.
Costumam se queixar com frequência de sentimentos crônicos de vazio e apresentam propensão a se envolver em relações íntimas intensas e fugazes, devido a sua instabilidade, o que ocasiona frequentes crises emocionais.
Pequenos estressores são suficientes para levá-los a atos de ira incontroláveis, com reações desproporcionais ao estímulo desencadeador do ataque de fúria.
Seus atos intempestivos revelam um “humor de pólvora”, tendo como alvo pessoas do convívio, como cônjuges, irmãos, pais, amigos, namoradas, colegas de trabalho e familiares.
É importante ressaltar, que embora a pessoa borderline consiga manter condutas adequadas em várias situações, ela escorrega feio em situações naturais do dia a dia, uma vez que o seu limiar de tolerância para as frustrações é extremamente baixo.
Borderline são suscetíveis em suas manifestações de instabilidade afetiva e emocional, oscilando entre as polaridades, indo do amor exaltado ao ódio declarado, da alegria efusiva a tristeza profunda, da apatia morna ao entusiasmo exacerbado, tudo isto denota uma busca de organizar suas questões internas.
A compreensão da Teoria Organísmica nos ajuda a perceber que não há perda nas funções de ego destas pessoas, ou em quaisquer outras, o que ocorre, sim, é um nível de organização e centralidade do organismo constituído a partir de isolamento de partes deste mesmo organismo, de tal modo que, no caso específico dos “borderlines”, a relação Eu-Tu fica comprometida gravemente, e o aspecto “funcional” ou a “necessidade de parecer-ser uma pessoa qualquer” toma a cena nos momentos de inter-relação humana, promovendo uma forte sensação de insegurança ontológica frente ao outro.
Pode-se compreender que as condutas de isolamento de partes do organismo estão na base de qualquer disfunção de contato posterior. No entanto, as condutas mais primitivas de isolamento estarão na base da formação de disfunções mais dramáticas para o organismo, podendo, mais tarde, se constituir na formação de uma conduta “borderline” ou, até mesmo, uma organização psicótica.
A vivência de pessoas com Transtorno “Borderline” está profundamente afetada por uma severa insegurança existencial frente ao outro. O auto-suporte inadequado é mantido sob o ajustamento como um “parecer-ser”.
As pessoas com este transtornos necessitam de acompanhamento médico e psicoterápico.
Este texto é de caráter informativo e não substitui uma sessão psicoterápica.